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Como Planejar uma Viagem para Lugares Abandonados

  • Foto do escritor: Michele Duarte Vieira
    Michele Duarte Vieira
  • 7 de jun.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 30 de jul.

Há algo profundamente instigante em caminhar por corredores esquecidos, escutar o silêncio denso de uma construção que já foi viva e sentir o peso da história impregnada nas paredes rachadas de um lugar abandonado. O que para muitos é sinônimo de decadência, para outros é um convite à descoberta. Viagem para lugares abandonados, esquecidos pelo tempo, fábricas, sanatórios, vilas, igrejas ou estações, é um tipo de experiência que mistura turismo, história, emoção e até arte.


Esse tipo de viagem exige muito mais que curiosidade e espírito aventureiro. É preciso planejamento meticuloso, respeito ético, e atenção redobrada à segurança. A seguir, você encontrará um roteiro completo para organizar uma jornada inesquecível a lugares abandonados, de forma consciente e segura.

Viagem lugares abandonados

1. Entenda o Que É Urbex e Seus Princípios

Urbex, ou Urban Exploration (exploração urbana), é uma prática dedicada à visita e documentação de locais esquecidos ou inativos, geralmente proibidos ao público. Apesar do apelo fotográfico e histórico, essa atividade é guiada por um código ético bastante rígido, sintetizado em uma frase: "Take nothing but pictures, leave nothing but footprints" (Não leve nada além de fotos, não deixe nada além de pegadas).


Antes de qualquer plano, é fundamental entender que não se trata apenas de “turismo sombrio”, mas de uma vivência pautada pela preservação, discrição e respeito.


2. Escolha o Tipo de Lugar Abandonado Que Você Quer Conhecer

Os lugares abandonados não são todos iguais. Cada tipo oferece uma experiência diferente:

  • Hospitais psiquiátricos e sanatórios: carregam uma atmosfera densa, muitas vezes associada a histórias macabras. Interessam quem busca narrativas intensas e arquitetura médica antiga;

  • Fábricas e complexos industriais: gigantes de concreto, com maquinário enferrujado e uma estética pós-apocalíptica que atrai fotógrafos e cineastas;

  • Vilarejos e povoados desertos: permitem uma imersão mais ampla, geralmente localizados em áreas remotas e com história ligada à economia, guerra ou desastres naturais;

  • Parques de diversões, hotéis e estações de trem: geralmente têm valor estético alto e memórias afetivas coletivas, o que torna a visita um mergulho emocional.


Pesquise e escolha aquele tipo de cenário que mais conversa com seus objetivos e perfil explorador.


3. Pesquise Lugares Acessíveis e Legais em Viagem para Lugares Abandonados

É essencial fazer uma distinção entre locais que podem ser visitados legalmente e os que ainda estão sob propriedade privada ou municipal com acesso proibido. Visitar ilegalmente pode gerar problemas sérios: desde multas até riscos físicos ou confrontos com seguranças.


Busque por:

  • Locais turísticos que mantêm o status de abandonado: como o antigo Hotel del Salto (Colômbia), a ilha de Hashima (Japão) ou Pripyat (Chernobyl);

  • Áreas liberadas por ONGs ou grupos históricos locais: frequentemente organizam passeios com guias especializados;

  • Mapas colaborativos e fóruns de exploradores: como o Urbex Playground ou grupos no Reddit. Apenas tome cuidado para não usar informações que incentivem invasão.


Dica: Se você tiver interesse por ruínas no Brasil, lugares como a antiga cidade de Fordlândia (PA), o Hotel Monte Palace (ilha de São Miguel – Açores) ou estações ferroviárias desativadas são opções relativamente acessíveis com algum grau de legalidade.


4. Planeje Cada Etapa com Atenção

O improviso pode ser poético em uma viagem, mas nesse tipo de jornada ele pode ser perigoso. Um bom plano inclui:


a) Levantamento de Informações

Antes de partir, reúna:

  • Local exato e como chegar;

  • Condições climáticas;

  • Histórico do lugar (quando foi construído, por que foi abandonado);

  • Relatos de outros viajantes;

  • Nível de acesso (livre, sob autorização, proibido);

  • Proximidade com hospitais ou delegacias, se for área remota.


b) Criação de um Roteiro

Inclua não só o local principal como também pontos de apoio e locais de descanso. Muitos lugares abandonados estão distantes de centros urbanos. É fundamental ter um plano B para alimentação, hospedagem e transporte de emergência.


c) Contato com Autoridades ou Proprietários

Caso o local pertença a alguém, entre em contato. Muitos proprietários autorizam visitas com responsabilidade. Além disso, em áreas urbanas, informe alguém sobre seu trajeto. Evite sair sem deixar rastro, literalmente.


5. Monte um Kit de Equipamentos Essenciais

Aqui, minimalismo não é uma boa ideia. O seu kit pode salvar sua vida. Priorize:

  • Lanternas potentes e baterias extras;

  • Máscara de respiração (PFF2 ou superior) — para locais com mofo, asbestos ou excremento de animais;

  • Luvas resistentes e roupa de manga longa;

  • Bota de cano alto e sola grossa;

  • Kit de primeiros socorros;

  • Câmera ou celular com proteção anti-impacto;

  • Corda leve (pode ser útil em descidas inesperadas);

  • Alimentos leves, isotônicos e água.


Se for filmar ou fotografar, leve baterias extras, tripé portátil e capinha protetora para chuva ou poeira.


6. Nunca Vá Sozinho

Por mais experiente que você seja, os riscos são reais: estruturas instáveis, presença de animais peçonhentos, buracos no piso, tetos prestes a desabar. Além disso, locais abandonados podem atrair outras pessoas, nem sempre com boas intenções.


Viaje em dupla ou grupo pequeno (2 a 4 pessoas). Estabeleça sinais, crie um sistema de checagem constante, e tenha um plano de evacuação em caso de acidente.


7. Cuidados Durante a Exploração

Enquanto estiver no local:

  • Evite tocar ou mover objetos antigos: Eles podem desabar, conter parasitas ou estar contaminados;

  • Não acenda fogueiras nem fume: Muitos locais têm materiais inflamáveis e estruturas que podem colapsar com o calor;

  • Observe o chão antes de cada passo: Pisos ocos, rachaduras ou ferragens soltas são comuns;

  • Respeite a história do local: Não rabisque, não leve souvenirs, não destrua nada;

  • Silêncio e atenção total: O menor som pode indicar desabamento ou presença de outro visitante.


8. Registre, Mas Com Sensibilidade

As imagens de lugares abandonados são fascinantes, mas precisam de contexto e respeito. Evite:

  • Publicar fotos de forma sensacionalista;

  • Criar mitos sem base histórica;

  • Estimular visitas ilegais.


Valorize a fotografia como registro cultural. Use legenda informativa, compartilhe a história e, se possível, contribua com projetos de preservação da memória local.


9. Compartilhe a Experiência com Responsabilidade

Ao retornar, você pode inspirar outros viajantes. Mas lembre-se:

  • Não revele coordenadas exatas de locais sensíveis;

  • Informe sobre os riscos;

  • Sugira boas práticas;

  • Dê crédito a quem te ajudou na pesquisa;

  • Incentive a ética e a segurança.


Se decidir escrever, fotografar ou filmar, transforme seu conteúdo em um convite ao cuidado, e não à invasão ou degradação.


10. Considere Participar de Grupos de Exploradores

A comunidade Urbex é vibrante, embora muitas vezes discreta. Participar de fóruns, grupos e encontros pode enriquecer muito sua experiência. Além de trocar informações seguras, você poderá participar de expedições coletivas organizadas com autorização e suporte.


Alguns grupos promovem verdadeiras expedições históricas, com mapas antigos, levantamento de registros civis e até encontros com ex-moradores dos locais explorados.


Quando o Silêncio Fala Mais Alto

Em meio às paredes desgastadas pelo tempo, ao rangido das portas corroídas e ao mato que avança sobre o concreto, há algo profundo que nos observa em silêncio. Não são fantasmas, nem lendas urbanas, mas sim a própria memória coletiva que repousa nesses espaços. Planejar uma viagem a lugares abandonados é mais do que explorar ruínas. É visitar a ausência, contemplar a impermanência, e ouvir as histórias que só o tempo calado sabe contar.


Se você sentir que um lugar o chama, vá com humildade. Escute. Observe. E volte com mais do que fotos: volte com respeito, com aprendizado e com um novo olhar sobre tudo aquilo que já foi um lar, uma fábrica, um riso ou um grito.


Essa jornada não termina no portão de ferro enferrujado. Ela continua dentro de você, cada vez que alguém pergunta: “Por que você viaja para lugares assim?”. E você sorri, porque sabe que quem nunca ouviu o silêncio de um lugar esquecido, nunca conheceu o som verdadeiro da memória.

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