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Viagens Temáticas: Roteiros de Locais Abandonados pelo Mundo

  • Foto do escritor: Michele Duarte Vieira
    Michele Duarte Vieira
  • 1 de ago.
  • 5 min de leitura

Explore as ruínas, descubra o silêncio e caminhe entre os ecos da história

A busca por experiências autênticas e surpreendentes tem conduzido viajantes para longe dos tradicionais pontos turísticos. Em vez de cartões-postais e multidões, muitos têm optado por destinos onde o tempo parece ter parado: cidades fantasmas, fábricas silenciosas, hospitais esquecidos e vilarejos inteiros tomados pela natureza. A viagem temática por locais abandonados pelo mundo não é apenas uma aventura estética, é também uma forma intensa de contato com o passado, com histórias não contadas e com atmosferas que desafiam o senso comum do turismo.


Combinando arqueologia urbana, fotografia, história e adrenalina, esses roteiros têm conquistado desde exploradores solitários até grupos organizados de "urbex" (urban explorers). Se você deseja incluir esse tipo de imersão em sua próxima viagem, é essencial entender os tipos de locais existentes, como acessá-los com segurança e quais histórias cada ruína ainda sussurra aos que se aproximam.

locais abandonados

Por que os locais abandonados pelo mundo fascinam?

1. O mistério do silêncio: Há algo de hipnótico em edifícios vazios. O vazio convida à imaginação. Cada corredor escuro ou sala empoeirada guarda rastros de pessoas que ali viveram, trabalharam, adoeceram, sonharam ou simplesmente desapareceram;


2. A estética do tempo: Paredes descascadas, vegetação tomando conta de estruturas humanas, objetos deixados para trás... Tudo isso compõe uma estética melancólica que desperta o fascínio pela impermanência;


3. O peso das histórias esquecidas: Locais abandonados estão profundamente conectados a episódios marcantes da história: guerras, acidentes, desastres ambientais, colapsos econômicos ou mudanças geopolíticas. Explorar essas ruínas é também resgatar narrativas silenciadas.


Tipos de lugares abandonados para explorar

1. Cidades fantasmas: São núcleos urbanos completamente desocupados, muitas vezes em decorrência de crises econômicas, desastres naturais ou evacuações forçadas. Algumas delas parecem ter sido congeladas no tempo.

  • Exemplo emblemático: Pripyat, na Ucrânia, evacuada após o desastre nuclear de Chernobyl em 1986. É hoje um dos destinos mais procurados do turismo de abandono.


2. Hospitais, sanatórios e manicômios: Além da carga histórica e estética, esses locais despertam emoções fortes. Muitos funcionaram em regimes de opressão, isolamento e sofrimento.

  • Beelitz-Heilstätten, Alemanha: um complexo de sanatórios do século XIX parcialmente engolido pela floresta e acessível via passarelas suspensas.


3. Parques temáticos esquecidos: Antigos centros de lazer e diversão podem ser também os mais perturbadores. Brinquedos enferrujados, mascotes desbotados e montanhas-russas cobertas por trepadeiras compõem uma paisagem surreal.

  • Nara Dreamland, Japão (demolido, mas eternizado em imagens), foi uma réplica do Disneyland que acabou abandonada por décadas.


4. Vilarejos e aldeias isoladas: Muitos foram esvaziados por falta de recursos, mudanças no comércio ou êxodo rural. A ausência de pessoas é substituída por casas cheias de objetos pessoais, fotografias, utensílios, tudo intocado.

  • Craco, Itália: cidade medieval sobre um penhasco, abandonada por riscos geológicos. Hoje, é aberta para visitação e filmagens.


5. Complexos industriais e militares: Fábricas, minas, arsenais e silos nucleares compõem cenários de um passado de produção e conflito. São altamente procurados por fotógrafos e documentaristas.

  • Hashima Island (ou Gunkanjima), Japão: uma ilha artificial construída para mineração de carvão, desabitada desde os anos 1970.


Como planejar sua viagem temática por locais abandonados

Passo 1: Escolha um eixo geográfico ou histórico - Antes de montar o roteiro, defina qual é o recorte que mais te atrai: locais pós-industriais? Pós-guerra? Aldeias medievais? Bases da Guerra Fria? Isso ajuda a criar uma jornada coerente e mais imersiva.


Passo 2: Verifique a legalidade e o acesso - Nem todos os locais estão abertos à visitação. Muitos são propriedade privada ou áreas de risco. Em alguns países, entrar sem autorização é considerado crime. Sempre busque informações oficiais ou opte por tours organizados.


Passo 3: Monte um kit de exploração seguro - Equipamentos recomendados:

  • Lanterna de cabeça

  • Máscara PFF2 ou respirador (poeira, mofo)

  • Botas de trilha com solado antiderrapante

  • Luvas resistentes

  • Roupas de manga comprida

  • Powerbank e GPS offline


Passo 4: Pesquise profundamente sobre cada local - Mais do que a visita em si, entender a história do lugar transforma a experiência. Explore arquivos históricos, relatos de antigos moradores ou documentários específicos.


Passo 5: Respeite e preserve o que encontrar - Evite remover objetos, pichar, danificar ou alterar estruturas. O turismo em locais abandonados deve ser de observação, não de interferência. A beleza está justamente na ruína intacta.


Roteiros imperdíveis pelo mundo

1. Leste Europeu: O rastro da Guerra Fria - De bunkers nucleares na Albânia a fábricas desativadas na Romênia, o Leste Europeu oferece cenários épicos e inquietantes, com forte peso histórico e visual cinematográfico.


2. Japão: O contraste entre tradição e abandono futurista - Além de Hashima, o Japão possui vilas inteiras abandonadas em montanhas, escolas vazias, templos esquecidos, muitos acessíveis por trem ou trilha.


3. Estados Unidos: Fantasmas do Velho Oeste e da era industrial - Bodie, na Califórnia, é uma autêntica cidade fantasma preservada como parque histórico. Detroit, por outro lado, virou símbolo do abandono urbano pós-industrial, com imensas fábricas, teatros e hotéis vazios.


4. Itália e França: Abandono romântico e ruínas poéticas - Castelos decadentes, vilarejos de montanha esvaziados e hospitais góticos tomados pela hera são comuns na paisagem rural desses países. Na França, o Oradour-sur-Glane foi mantido como memorial após ser destruído pelos nazistas em 1944.


5. Brasil: Memórias soterradas e aldeias esquecidas - De cidades mineiras abandonadas após o ciclo do ouro, a vilarejos fantasmas no sertão e antigas fábricas de beneficiamento desativadas, o Brasil também guarda cenários que merecem ser reexplorados sob essa ótica.


Aspectos psicológicos e emocionais da exploração

Muitos exploradores relatam sensações contraditórias durante a visita a locais abandonados: ao mesmo tempo que há encantamento, há também desconforto, introspecção, inquietude. Caminhar por um hospital psiquiátrico vazio ou uma escola infantil abandonada pode provocar reflexões profundas sobre o tempo, a vida e a morte.


Essa viagem interior faz parte da proposta. Ao visitar esses lugares, o viajante também visita partes esquecidas de si. O silêncio fala. O mofo carrega memórias. E o vazio se enche de perguntas sem resposta.


Registrando a experiência: fotografia e narrativa

A fotografia de locais abandonados, também conhecida como ruin porn (pornografia da ruína), tornou-se uma subcultura visual. Dicas para capturar a atmosfera:

  • Prefira luz natural e contraste suave;

  • Use lentes grandes angulares para dar profundidade aos ambientes;

  • Capture detalhes (brinquedos, janelas quebradas, pinturas antigas);

  • Evite interferir no cenário;

  • Respeite a ética: não exponha endereços que possam atrair vandalismo.


Além das imagens, manter um diário de bordo pode transformar sua viagem em material artístico, documental ou mesmo educativo.


Quando os vestígios do mundo tocam a alma

Entre todos os tipos de viagem temática, explorar locais abandonados é talvez o que mais desafia nossa percepção de beleza, tempo e memória. Ao invés de buscar o “novo”, você mergulha no que foi deixado para trás. É uma experiência que exige sensibilidade, atenção e profundo respeito.


Esses destinos não são sobre o vazio, mas sobre o que ainda permanece: camadas de história impregnadas nas paredes, rastros silenciosos da humanidade, lembranças do que poderia ter sido.


Ao voltar de uma jornada assim, o viajante carrega mais do que imagens impactantes: traz consigo um entendimento mais poético da decadência, da resistência do tempo e da impermanência das coisas. É uma forma de viagem que transforma e que ecoa, mesmo depois do retorno.


Seja com os pés sujos de poeira, as mãos cheias de história ou o olhar cheio de espanto, quem se aventura por entre ruínas descobre que nem tudo que está abandonado está esquecido. Alguns lugares apenas esperam ser ouvidos em silêncio. E quando você os encontra, o mundo todo parece suspirar por um instante.

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